Os fios de Deus - a massa mais rara do mundo também é uma das mais difíceis de fazer

Conhecida como su filindeu ou Fili di Dio (em italiano), e traduzida como fios de Deus. Nos últimos duzentos anos, a única maneira de experimentar os fios da boa massa era completar uma peregrinação de 33 km a pé ou a cavalo de Nuoro à vila de Lula. Mas porque este prato sagrado está em sério risco de sumir, as únicas três mulheres no mundo que sabem como fazê-lo, têm tentado salvá-lo tornando-o mais acessível.  

Paola Abraini, de 67 anos, aprendeu a fazer fios de macarrão divino com sua mãe, e assim por diante por muitas gerações. No entanto, apenas uma de suas duas filhas conhece a técnica básica, mas não tem a paixão e a paciência necessárias para dar continuidade à tradição familiar. As outras duas únicas mulheres a quem ela conseguiu passar seus conhecimentos, são a sua sobrinha e a cunhada, não têm filhas para passar os segredos, então su filindeu corre sério risco de desaparecer. 

Nos últimos anos, Paola Abraini ficou tão desesperada a mostrar como faz a massa os fios de Deus que tanto ama que foi às autoridades locais pedir-lhe que ajudasse a montar uma escola para meninas que desejam se tornar fabricantes de su filindeu. Disseram que não havia dinheiro para escolas, então ela decidiu convidar as meninas para sua casa e ensiná-las. Isso também não deu certo, porque fazer os fios de Deus não é a coisa mais fácil do mundo.  

“Não deu certo”, disse Abraini à BBC, em 2015. “O problema é que, depois de verem como eu realmente faço isso, diziam: 'Dá muito trabalho' e não voltavam mais. ”  

Mas ela se recusa a desistir, e desde então foi convidada a Roma para mostrar suas habilidades de fazer su filindeu, pela revista de comida e vinho Gambero Rosso. Ela também começou a fazer o macarrão raro para vários restaurantes da capital italiana para que fosse servido pela primeira vez aos públicos, tudo na tentativa de salvar o prato raro.  

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Mas, porque os fios de macarrão perfeito são tão difíceis de fazer? Ele consiste apenas de três ingredientes, farinha de sêmola, água e sal, mas é tudo feito à mão, é o próprio processo que está esgotando. Após misturar os ingredientes, a massa é amassada por muito tempo para esticar a massa, chave para fazer os fios extremamente longos e finos. Quando estiver suficientemente flexível, o alongamento começa.  

Paola Abraini enrola a massa em 8 tiras longas e finas, dobra, corta ao meio e estica novamente. O processo é repetido 32 vezes, até que 256 fios extremamente finos de massa sejam obtidos. Só para se ter uma ideia de como a massa fica fina, elas são cerca da metade da espessura das mais conhecidas massas de cabelo de anjo.

Em seguida, os fios são esticados sobre uma bandeja plana e redonda chamada  fundu, em três camadas sobrepostas, e deixados ao sol por algumas horas, para secar. As camadas de massa se unem, criando um design semelhante a um tecido. Pedaços dessa tapeçaria comestível são quebrados e cozidos.

O processo é fácil de entender, mas acertar parece ser um problema para a maioria das pessoas, até mesmo para cozinheiros experientes. 

“Muita gente diz que tenho um segredo que não quero revelar”, disse Abraini à BBC. “Mas o segredo está bem na sua frente. Está em minhas mãos. ” 

Em 2015, uma equipe internacionalmente conhecida da marca de massas Barilla visitou a Abraini, na esperança de encontrar formas de reproduzir a massa com uma máquina. Eles aparentemente falharam. Então, o chef superstar Jamie Oliver visitou Abraini e tentou aprender sua técnica, mas desistiu após duas horas de tentativa. E esses são apenas os exemplos mais notáveis, centenas de outros tentaram e falharam.  

De acordo com a Ark of Taste do Slow Food International, um projeto que visa classificar e preservar as tradições culinárias mais ameaçadas do mundo, entre os quase 4.000 itens listados, su filindeu é a massa mais rara e mais ameaçada do mundo. Este é um dos alimentos com maior risco de extinção, em grande parte porque é uma das massas mais difíceis de fazer que existe, disse Raffaella Ponzio, coordenadora-chefe da Arca do Gosto.